Estado de exceção abre crise política no Paraguai (matéria publicada noR7 dia 26/04/10 Record News)

A declaração de estado de exceção em cinco Departamentos do Paraguai, aprovada neste último sábado (23) pelo Congresso local, abriu mais uma crise política no país vizinho. Nesta segunda-feira (26), o vice-presidente Frederico Franco, que vive às turras com o governo Fernando Lugo, afirmou que o Comandante das Forças Armadas, Óscar Velázquez, lhe teria dito que a prioridade da medida não era caçar os integrantes do grupo armado EPP, insinuando uma conspiração política.

Franco, do Partido Liberal, relatou uma reunião no Comando das Forças Armadas do Paraguai no último sábado, com a participação do presidente Lugo. Franco disse que Velázquez e o próprio presidente "disseram em várias oportunidades que o objetivo principal do estado de exceção não era a captura do auto-denominado Exército do Povo Paraguaio [EPP]".

- Fiquei surpreso, atordoado e confuso. Pedi explicações. Perguntei se iam fechar as fronteiras. Aí me disseram que Velázquez só podia explicar [os objetivos da medida] em termos genéricos.

Franco disse que, antes da reunião no Comando das Forças Armadas, Lugo se reuniu com a cúpula do governo na residência oficial. Segundo o vice-presidente, ele só soube do encontro por meio de jornalistas.

O governo pediu o estado de exceção para perseguir os membros do EPP, que estariam montando campos de treinamento no norte do país. O grupo estaria por trás de sequestros ocorridos no Paraguai. Suspeita-se ainda que o EPP tenha responsabilidade em atentados a bomba ocorridos em Assunção no último ano.

Lugo nega e Franco se explica no Congresso

Logo após as declarações de Franco, em Assunção, Lugo disse que que é "absolutamente falsa" a declaração de seu vice.

- Este é um pedido de longa data de vários governadores. É verdade que queremos devolver a tranquilidade aos cinco Departamentos. O objetivo central é capturar o EPP.

Franco foi chamado a dar explicações no Congresso na tarde desta segunda-feira. Segundo o presidente da Câmara de Deputados, Ariel Oviedo, os parlamentares podem anular o estado de exceção se for comprovado que o vice está dizendo a verdade.

A eleição de Lugo em 2008, que pôs fim a 61 anos de controle total do Paraguai pelo Partido Colorado, só foi possível graças ao apoio do Partido Liberal de Franco, rival dos velhos governistas. A aliança entre o ex-bispo, que não era filiado a nenhum partido político e teve uma ascenção política meteórica no país vizinho, começou a rachar antes mesmo da posse de Lugo.

Setores da oposição já falam no impeachment de Lugo, caso ele não consiga acabar com o grupo EPP nos 30 dias em que vigora o estado de exceção. Não é a primeira vez que se fala em cassar o mandato do presidente - durante os escândalos envolvendo a paternidade de vários filhos de Lugo, a oposição cogitou abrir um processo de impeachment.