ONU vê risco de violência fora de controle na Tailândia (matéria publicada na BBC Brasil 17/05/10)

A ONU disse nesta segunda-feira que a violência na Tailândia, que causou a morte de 37 pessoas nos últimos cinco dias, pode fugir ainda mais do controle e pediu para que manifestantes e o governo dialoguem.

"Ao passo em que se esgota o último prazo do governo, há o risco de que a situação escape do controle", disse disse a Alta Comissária das Nações Unidas para Direitos Humanos, Navi Pillay por meio de um comunicado.

Ela referia-se ao prazo esgotado nesta segunda-feira que foi dado pelo governo para que os cerca de 5 mil manifestantes, chamados de camisas vermelhas, abandonassem seu acampamento no centro da capital Bangcoc.

"Peço para que os líderes coloquem seu orgulho e a política de lado em nome do povo tailandês. Para evitar maiores perdas de vidas, apelo para que os manifestantes deem um passo para trás e para que as forças de segurança mostrem o máximo de moderação, respeitando as instruções do governo", disse ela.

Nesta segunda-feira, um líder manifestante e um negociador do governo não chegaram a um acordo para uma trégua após uma conversa telefônica de cinco minutos.

O governo insiste que os manifestantes devem abandonar o acampamento antes de dialogar. Já os camisas vermelhas afirmam que uma pré-condição para o diálogo é que os militares suspendam o cerco ao acampamento.

Os camisas vermelhas exigem a renúncia do primeiro-ministro tailandês, Abhisit Vejjajiva, a dissolução do parlamento e a realização de eleições.

A grande maioria dos manifestantes apoia o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, que foi deposto em 2006.

Os protestos vêm ocorrendo desde março, mas a violência voltou a aumentar na quinta-feira passada, quando o general dissidente Khattiya Sawasdipol, que apoiava a oposição, foi ferido com um tiro na cabeça.

Conhecido como Comandante Vermelho, Sawasdipol, que foi alvo de um atirador não identificado, morreu nesta segunda-feira, após permanecer vários dias em estado grave.

Desde a semana passada, as forças de segurança tailandesas mantêm um cerco ao acampamento.

A correspondente da BBC Rachel Harvey, que está no acampamento, disse que após o horário imposto para todos deixarem o local (15h, horário local, 5h de Brasília), houve vários discursos e os presentes - a maioria mulheres - aplaudiram bastante.

"Nós vamos continuar persistindo em ficar aqui. E vamos falar para todos para não ter medo. É só ficar quieto, sentado ou de pé. E não revidar. E se eles quiserem nos matar, que nos matem", disse aos manifestantes Weng Tojirakarn, um dos líderes dos protestos.

Outro correspondente da BBC em Bangcoc, Chris Hogg, diz que a situação continua bastante tensa nas ruas da capital tailandesa.

Ele disse que soldados estão utilizando uma política de retenção com armas de fogo, atirando em direção ao acampamento para tentar manter os manifestantes a uma distância segura deles.

Em todo o país, 22 províncias já estão em estado de emergência - declarado pelo governo em uma tentativa de impedir que mais manifestantes cheguem à capital.